sexta-feira, 30 de março de 2012

Igreja e poder público de mãos dadas em prol da população de Nossa Senhora do ÓTítulo da postagem


A Paróquia de Nossa Senhora do Ó, em Ipojuca, será parceira do governo municipal na elaboração de políticas públicas. Esse foi o resultato da reunião entre o arcebispo de Olinda e Recife, dom Antônio Fernando Saburido, o pároco, padre Djanilson Pereira, o vigário paroquial, padre Ivan Maciel, e representantes da prefeitura, da Assembléia Legislativa, da Câmara de vereadores e da justiça. O encontro com as autoridades civis aconteceu na tarde desta quinta-feira, 29, na Escola Estadual Frei Otto, como parte da programação da Visita Pastoral à região.

O coordenador arquidiocesano de pastoral, padre Josenildo Tavares, abriu o encontro. Em seguida, dom Saburido explicou o sentido da Visita Pastoral e da reunião com as autoridades civis da região, onde temporariamente funciona a administração da Igreja particular de Olinda e Recife. “Não estamos aqui para criticar, muito pelo contrário queremos abrir o diálogo para auxiliar na questões que são de interesse público”, disse.

A comunidade de Nossa Senhora do Ó elaborou uma pauta com reinvidicações para o poder público. O documento entregue ao padre Djanilson Pereira, norteou as discussões. No documento, cobranças por melhorias na educação, segurança, saúde, infra-estrutura e a criação de projetos culturais para a juventude. O prefeito da cidade de Ipojuca, Pedro Serafim, rebateu as críticas ao governo e apresentou números com relação a educação. De acordo com o gestor, em sete anos de governo, foram construídas novas escolas e outras foram reformadas. Quanto aos outros temas, o prefeito reconheceu que há muito ainda a ser feito, e que muitas vezes a burocracia da administração pública dificulta a realização de projetos.

A juíza Hildete Verissimo, enfatizou a necessidade de elaborar projetos para a juventude. “Como mãe me sinto comovida em atender casos de adolescentes de 14, 15 e 16 anos trabalhando como agentes do tráfico, não podemos assistir a essa situação e não fazermos nada para evitar, precisamos envolver, todos principalmente a Igreja”, declarou a magistrada.

Diante das necessidades apresentadas pelas autoridades, o padre Djanilson Pereira, garantiu que a Matriz de Nossa Senhora do Ó, está à disposição para auxiliar o poder público na resolução dos problemas. “A nossa preocupação é com o povo de Deus. Claro que houveram avanços, mas precisamos avançar ainda mais, e o nosso intuito é somar”, declarou o sacerdote.

O secretário de Saúde de Ipojuca, Valdemir Borba, avaliou como “extremamente positivo” o encontro da Igreja com as autoridades civis. “Vamos começar já uma parceria que será fundamental na saúde preventiva da população. Criaremos junto com o padre uma rotina de palestras e formações, dentro da Igreja para melhorar as condições de saúde do município”, afirmou. “Paralelamente vamos intensificar nosso trabalho de humanização nos nossos hospitais e postos de saúde”, completou o secretário.

Para o arcebispo o comprometimento das autoridades é o primeiro sinal de conquista da Visita Pastoral. “Queremos com nossa presença favorecer o diálogo, e esse objetivo já foi atingido com as autoridades, especialmente com o prefeito que se mostrou aberto. A população em geral só tem a ganhar”, comemorou o religioso.
Da Assessoria de Comunicação AOR

Dom Fernando é condecorado com a Medalha Frei Caneca


O reconhecimento por uma vida dedicada não só a Igreja, mas também ao bem estar de toda sociedade, especialmente, dos mais necessitados. Na noite desta quarta-feira, 27, o arcebispo de Olinda e Recife, dom Antônio Fernando Saburido, foi recebido de pé no plenário da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) e condecorado com a Medalha do Mérito Democrático Frei Caneca – Classe Ouro 2012. A iniciativa partiu do deputado Zé Maurício (PP) e foi aprovada por unanimidade por todos os parlamentares. A comenda foi criada, em 2008, para celebrar a Data Magna de Pernambuco e homenagear personalidades ou instituições com atuação relevante em defesa dos princípios democráticos e da igualdade de direitos.

O parlamentar afirmou que a ideia de homenagear dom Fernando com a medalha veio depois de conhecer o trabalho do Movimento Pró-Criança e outras atividades sociais coordenadas pela arquidiocese. “Comecei a acompanhar o trabalho social da Igreja e vê de perto os resultados concretos da ação social dos grupos que são pastoreados pelo arcebispo”, disse. “Dom Fernando faz tudo isso com um espírito agregador. Graças ao seu perfil de conciliador vem contribuindo decisivamente por uma sociedade melhor, é mais do que justa essa homenagem”, completou o deputado.

O presidente da Alepe, deputado Guilherme Uchôa (PDT), destacou a abertura de dom Fernando para dialogar com as mais diversas instituições da sociedade, em prol do bem coletivo. “É notável o cuidado do arcebispo com os excluídos. Além disso, está sempre pronto para auxiliar o poder público a melhorar a vida das pessoas como o engajamento no combate à dengue por exemplo. Assim ele não só conquista a simpatia dos católicos, mas o respeito dos fieis de outras religiões”, declarou o parlamentar.

Dom Fernando agradeceu a condecoração e salientou a importância do trabalho em conjunto que ele desempenha com o clero e os leigos na administração da Arquidiocese de Olinda e Recife. “Não é uma homenagem só para mim, mas para todos que contribuem para a promoção humana na arquidiocese”, afirmou. “Essa medalha é também, um alerta para que não esqueçamos a missão que o evangelho nos impõe de nos voltarmos cada vez mais para os mais pobres”, acrescentou o religioso.

A solenidade foi acompanhada por sacerdotes, diáconos e seminaristas da arquidiocese, como também, por autoridades civis e militares de Pernambuco. A animação do evento ficou por conta do quarteto de cordas da Orquestra Criança Cidadã, do Movimento Pró-Criança.


Discurso de Dom Fernando Saburido por ocasião do recebimento da Medalha Frei Caneca – Assembleia Legislativa de Pernambuco 
28 de março de 2012

Prezados irmãos e irmãs em Cristo!

Nesta reunião solene outorgam à minha pessoa a Medalha de Mérito Popular Frei Caneca, mas, de fato, é toda a Arquidiocese de Olinda e Recife que a recebe com alegria e humildade. Ao recebê-la, é impossível não pensar naquele que lhe empresta o nome, cuja fé e consciência política lhe valeram, perseguições, torturas e morte heroica.

Quase duzentos anos depois de ser fuzilado em praça pública, não poderia ficar esquecido o Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo, conhecido como Frei Caneca. Parabenizo, portanto, a Assembleia Legislativa de Pernambuco pela inspiração do título da medalha. Nascido nesta cidade do Recife em 20 de agosto de 1779. Filho de pai português e mãe brasileira, tomou o hábito carmelita com 17 anos de idade. Foi aluno do Seminário de Olinda, fundado em 1800, por Dom José Joaquim da Cunha Azeredo Coutinho, cujos estatutos recordam a missão de “fazer ministros dignos de servir à Igreja e ao Estado”. Essa observação nos faz ter uma ideia do alcance intelectual do Seminário de Olinda. Azeredo Coutinho, seu fundador, antes de ser ordenado, fora aluno da Universidade de Coimbra, de onde trouxe as ideias iluministas, alimentadas pelos que ensinavam e estudavam no Seminário de Olinda.

Com suas propostas liberais, narram os historiadores, Frei Caneca partilhava igualmente ideias republicanas e fazia parte da Academia do Paraíso, onde se reuniam os homens que, sob influência da Revolução Francesa e da independência dos Estados Unidos da América, alimentavam uma conspiração contra o jugo português.

A presença da Corte Portuguesa no Rio de Janeiro, depois de 1808, desencadeou muitos atritos entre os habitantes da Metrópole e da Colônia. Embora estivesse no Brasil, a coroa continuava portuguesa e favorecendo os interesses portugueses no Brasil. A estes desentendimentos acrescente-se o problema da desigualdade regional, resultante das condições econômicas e dos privilégios concedidos aos portugueses. Tudo isso desencadearia, em 1817, a Revolução Pernambucana, da qual tomaram parte amplas camadas do povo, como juízes, militares, artesãos, comerciantes, proprietários rurais e um grande número de padres, a ponto de ser conhecida como a “revolução dos padres”, formados, em sua maioria, pelo Seminário de Olinda.

A Revolução Pernambucana proclamou a república e estabeleceu a igualdade de direitos entre portugueses e brasileiros e a tolerância religiosa, mas não mexeu no problema da escravidão. Desse movimento tomou parte Frei Caneca como patriota voluntário, que acabou aprisionado na Bahia quando as tropas portuguesas tomaram o Recife, pouco mais de dois meses depois do levante.
Durante os quatro anos de prisão, Frei Caneca teve intensa atividade literária. Ao ser liberto, retorna a Pernambuco, onde retoma o engajamento político. Entre os anos de 1822 e 1824, escreveu: “Dissertação sobre o que se deve entender por pátria de um cidadão e deveres deste para com a pátria”, “Itinerário de uma viagem ao Ceará”, “Tratado de Eloquência”, “História da Província de Pernambuco”, dentre outros. Em 1823, redigiu e publicou o “Typhis Pernambucano”, jornal semanal de sua propriedade, autofinanciado e utilizado por ele para desmascarar a situação política e esclarecer as massas sobre a defesa dos seus direitos.

Com tantas críticas regionais e nacionais contra o Império, não tardaria a Frei Caneca ser novamente preso. Negou-se a reconhecer Francisco Paes Barreto como presidente da Província de Pernambuco e participou ativamente da Confederação do Equador, que deveria reunir sob forma federativa e republicana, além de Pernambuco, as províncias da Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e outras. A Confederação não teve como resistir às tropas do governo imperial e Frei Caneca acabou preso no Ceará, condenado à forca, sendo, no entanto, fuzilado, por não haver quem se habilitasse a executar o enforcamento. Em 13 de janeiro de 1825 morria Frei Caneca, sendo fuzilado onde hoje está o Forte das Cinco Pontas, no bairro de São José, em Recife. Seu corpo foi colocado em frente a uma das portas do carmelo, no centro da cidade.
No Auto do Frade, nosso poeta João Cabral de Melo Neto descreve o último dia de Frei Caneca. Numa das falas do auto, um oficial diz:

Que ninguém se aproxime dele.
Ele é um réu condenado à morte.
Foi contra Sua Majestade,
contra a ordem de tudo o que é nobre.
Republicano, ele não quis
obedecer ordens da Corte.
Separatista, pretendeu
dar o norte à gente do Norte.
Padre existe é para rezar
pela alma, mas não contra a fome.

O intelectual, erudito e homem de ação, educado no Seminário de Olinda, centro de difusão das ideias liberais, foi um homem à frente do seu tempo. Não apenas defendeu a democracia e a igualdade de direitos, mas ofereceu sua vida pela vida de tantos irmãos e irmãs que sofriam o flagelo da desigualdade e do desamparo social, infelizmente, ainda presente em nossos dias.

Esta medalha, portanto, humildemente recebemos, não apenas como reconhecimento pela promoção humana que, pela graça de Deus, pudemos realizar em nossa arquidiocese, mas, como incentivo para continuarmos nesse caminho, voltado, preferencialmente, para os nossos irmãos/ãs vítimas da injustiça e desigualdade social.

Nossa Igreja de Olinda e Recife está organizada pastoralmente em 12 Comissões Arquidiocesanas de Pastorais bem abrangentes, conforme proposta da CNBB nacional. Uma delas é a “Comissão para o Serviço da Caridade, Justiça e Paz” que tem como Presidente o Pe. Francisco de Assis Mota de Souza, MSF. São várias as pastorais e movimentos que integram a dita comissão, dentre elas destacamos: o Movimento Pró-Criança, dirigido pelo ilustre Prof. Sebastião Barreto Campelo, já com uma longa caminhada de 20 anos, iniciada pelo meu predecessor Dom José Cardoso Sobrinho e com um trabalho de referência visando crianças que vivem nas ruas; a conhecida Pastoral da Criança que guarda, com carinho, a memória da Dra. Zilda Arns – verdadeiro ícone nacional e internacional. A pastoral assiste as crianças de 0 a 6 anos e suas mães carentes; A Pastoral do Morador de Rua, recentemente criada e necessitada de apoio para atender, em melhores condições, os mais excluídos dos nossos irmãos que vivem abandonados nas calçadas e praças da grande cidade; Pastoral Carcerária que tem enfrentado muitas barreiras diante da luta pelos direitos dos marginalizados, preferidos de Jesus que disse: “Eu estava na prisão e vocês foram me visitar” (Mt 25,36b). Na Comissão para o Serviço da Caridade, Justiça e Paz temos ainda três sonhos em gestação: A instalação, na região metropolitana, de duas Fazendas da Esperança (masculina e feminina), para atender aos inúmeros dependentes de drogas; A Caritas Arquidiocesana para orientar e colaborar economicamente com os projetos sociais oriundos de nossas paróquias e a recriação da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, fundada durante o pastoreio do nosso inesquecível Dom Hélder Pessoa Câmara. Não podemos deixar de agradecer a Deus o trabalho que vem sendo realizado com muito esforço pela Santa Casa de Misericórdia. Instituição filantrópica sem fins lucrativos, sob a administração da arquidiocese que, através do Hospital Santo Amaro e suas filiadas vem beneficiando tantas crianças, jovens e adultos em situação de pobreza.

Recebemos a Medalha Frei Caneca como alerta de que não podemos esquecer a missão que o Evangelho nos impõe: sem a promoção da dignidade humana é em vão o anúncio do Reino de Deus, como recorda o Documento de Aparecida: “O amor de misericórdia para com todos os que veem vulnerada sua vida em qualquer de suas dimensões, como bem nos mostra o Senhor em todos os seus gestos de misericórdia, requer que socorramos as necessidades urgentes, ao mesmo tempo que colaboremos com outros organismos ou instituições para organizar estruturas mais justas nos âmbitos nacionais e internacionais. É urgente criar estruturas que consolidem uma ordem social, econômica e política na qual não haja iniquidade e onde haja possibilidades para todos. (…) A misericórdia sempre será necessária, mas não deve contribuir para criar círculos viciosos que sejam funcionais para um sistema econômico iníquo. Requer-se que as obras de misericórdia sejam acompanhadas pela busca de verdadeira justiça social, que vá elevando o nível dos cidadãos, promovendo-os como sujeitos de seu próprio desenvolvimento. Em sua Encíclica “Deus caritas est”, o Papa Bento XVI trata com clareza inspiradora a complexa relação entre justiça e caridade. Aí nos disse que “a ordem justa da sociedade e do Estado é tarefa principal da política” e não da Igreja. Mas a Igreja “não pode nem deve colocar-se à margem na luta pela justiça” (cf.nn 384/385). Inspiradas no Evangelho, estas palavras nos despertam para uma ação sempre mais permanente, recordando-nos que a Igreja no mundo está a serviço do ser humano. Ao mesmo tempo, parecem dar eco à inspiração de Frei Caneca, homem de Deus, homem do povo e homem do seu tempo. A partir de sua posturas sociais e religiosas, entendemos que é execrável todo ato político que autentique a injustiça e afronte a democracia e a dignidade do povo, especialmente quando há interesses particulares em detrimento do interesse do bem comum. Mais condenável ainda quando o bem público não socorre os mais pobres e necessitados, em suas necessidades básicas, como a saúde, conforme nos recorda a Campanha da Fraternidade deste ano: “Fraternidade e Saúde Pública”, com seu lema “Que a saúde se difunda sobre a terra” (Eclo 38,8).

Agradeço à Assembleia Legislativa de Pernambuco a Medalha que me foi outorgada. Agradeço também a todos aqueles/as com os quais compartilho essa homenagem, meus irmãos presbíteros, diáconos, e todos os leigos e leigas engajados, trabalhadores voluntários da “Messe do Senhor”. Sem o apoio e solidariedade desta significativa porção do povo de Deus, a missão seria impossível.

O trabalho pastoral, quando verdadeiramente evangelizador, tem sempre um alcance social transformador. Afinal, para isto disse o Mestre: “Vós sois o sal da terra. (…) Vós sois a luz do mundo” (Mt 5,13.14).
Obrigado a todos pela honrosa presença!


Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife
Da Assessoria de Comunicação AOR

sexta-feira, 9 de março de 2012

MULHER, MÃE E TRABALHADORA A LINGUAGEM DE AMOR

Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS [www.provinciasaopaulo.com]

De retorno a São Paulo, ao meu lado no ônibus viajava uma senhora ainda jovem com duas crianças: uma filhinha de alguns anos e um bebê de alguns meses. Logo surgiu um pequeno impasse. Dois ou três passageiros resmungaram sobre a luz acesa nas poltronas ocupadas pela mãe e filhos. Era evidente, porém, que ela não apagava a lâmpada individual para evitar o choro da criança de colo. Tinha perfeita consciência que seu bebê temia o escuro e devia esperar que ele dormisse.

Enquanto isso, a jovem mãe oferecia o peito e “falava” com o bebê. Falava entre aspas, porque se tratava de um monólogo de palavras e frases entrecortadas, um murmúrio de sons e afagos, incompreensível e ao mesmo tempo cheio de significado; um sussurro inarticulado de mimimi-mumumu, como diria um comentarista esportivo; a magia da água que, mansa e borbulhante, brota da fonte. Fonte cristalina e transparente, onde tudo é límpido e refrescante.

Num relance, pude observar os dois rostos praticamente colados um ao outro. O nariz da mãe entrecruzava-se com o do filho, num jogo de comunicação bem conhecido de quem costuma lidar com a infância. Mais expressivo ainda era o olhar dela fascinado pelos olhinhos da criança, abertos e fixos naquele rosto familiar e amado. Podia-se adivinhar o esboço de um sorriso divino de ambos os lados, num enternecimento inexprimível. A imagem transbordava de ternura e afeto.

Neste caso, pouco ou nada importavam a lógica e o sentido das palavras. O amor, a dedicação e o carinho expressavam-se, antes, pela entonação da voz, pelo calor do corpo, pelos braços acolhedores, pelo balanço ritmado dos embalos, pela profusão de carícias e beijos. A linguagem do amor, na expressão animal e humana, não é construída com um edifício de palavras, frases, discursos, e sim com balbucios, gestos, olhares, sorrisos, toques, canções, presença... É a arte daquela que, além de carregar a sua “cria” por nove meses no aconchego de seu ventre e amamentá-la depois de nascida, ensina-lhe em seguida as primeiras palavras, as primeiras preces e os primeiros passos. Aquela que, no berço e na casa, vela pela vida que cresce e amadurece: primeira a levantar-se, última a deitar-se.

Semelhante cena, tão simples e singela, levou-me às palavras do salmo: “eu fiz calar e repousar a minha alma, como uma criança recém-amamentada no colo da mãe” (Sl 131,2). Tanto a linguagem do amor quanto a linguagem da oração não são feitas como narrativas articuladas, gramaticamente corretas em seus conceitos e argumentações. Ao contrário, ela constitui uma mistura de sons e silêncios, comunicação de fala e escuta, onde prevalece uma tonalidade de voz que é única e irrepetível em cada pessoa e em cada relação.

A razão, com sua lucidez fria e cortante, apaga muitas vezes o encanto de uma relação amorosa, quer em termos espirituais quer em termos afetivos. Aqui a alma, o coração e o corpo falam mais alto, mesmo sem nada dizer de inteligível ou traduzível. Isso explica o encantamento da música, do afago amoroso, do olhar banhado de luz, da expressão facial que se abre em flor. Aliás, explica também a gratuidade da própria flor que se oferece inteira e bela, para logo murchar e morrer.

Amor e oração, meditação e contemplação nascem e crescem num terreno distinto da racionalidade. Podem e devem contar com ela, evidentemente, mas se guiam por outra bússola e rumam em direção a outro porto. Tampouco seguem a lógica estreita e taxativa da matemática, embora sem esquecê-la. Oblação e gratuidade jamais se esgotam nos números e nos conceitos. Seu mistério secreto, sem deixar de ser humano, encontra-se muito além (ou acima) da compreensão humana. Finitude e infinitude se entrelaçam: numa trajetória de vida finita habita um espírito infinito, inquieto e irrequieto, que sempre busca superar-se a si mesmo, somente repousando na Casa de Deus, como lembra Santo Agostinho.

O amor da mulher/mãe/trabalhadora, na vida de cada um de nós, é ao mesmo tempo um lugar de chegada e de partida, que nos acompanha em toda a trajetória, desde o berço ao túmulo, do nascimento à morte. Ponto de referência onde o humano e o divino se cruzam, deixando marcas indeléveis gravadas na pedra viva da história. A mulher em sua entrega materna e em sua contribuição na sociedade, a exemplo do poeta e do artista, carrega em si algo de profundamente humano-divino, revelando na face da terra um pouco do oxigênio que se respira nos céus! Em cada mulher esconde-se uma oração, às vezes não recitada, mas potencialmente presente.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Aberta as inscrições para a Escola de Fé e Política Padre Henrique

Com o objetivo de contribuir para a formação cristã a partir de uma reflexão teológica, bíblica e ética, a Comissão Arquidiocesana para o serviço da Caridade da Justiça e da Paz, vai implantar a Escola de Fé e Política Padre Henrique. Atendendo a uma demanda antiga da Igreja de Olinda e Recife, o curso começa no próximo mês e terá a duração de um ano. As inscrições para a primeira turma com 60 vagas, iniciam nesta quarta-feira, 15, e seguem até março, na sede da Cúria Metropolitana, bairro das Graças. No ato da matrícula o aluno deve pagar uma taxa única de R$ 50.

A Escola de Fé e Política Padre Henrique oferecerá uma formação sobre a Doutrina Social da Igreja. Temas como a História dos Movimentos Sociais, Espiritualidade e mística na militância, Direitos Humanos e Meio Ambiente serão debatidos durante o curso, sob a perspectiva cristã. Os módulos serão bimestrais, com as aulas ministradas no Centro Pastoral Dom Vital, na Várzea, nos meses de março, maio, julho, setembro e novembro.

Os objetivos da Escola de Fé e Política Padre Henrique, são formar agentes pastorais e lideranças; alimentar a mística cristã e a espiritualidade; fomentando o profetismo na perspectiva da evangelização e da transformação social, além de discutir a participação dos cristãos nas áreas das Políticas Públicas e do Controle Social, entre outros.

A secretária da Comissão Arquidiocesana para o serviço da Caridade da Justiça e da Paz, Vivian Santana, explicou que a Escola de Fé e Política será uma ferramenta importante na formação de líderes para a Igreja e para a comunidade em que vivem. “Não só quem já está engajado em algum movimento social, mas aqueles que são leigos no assunto terão a oportunidade de uma formação completa para que possam atuar dentro de suas realidades”, disse.

Clique aqui e baixe o folder da Escola de Fé e Política Padre Henrique

Serviço
Escola de Fé e Política Padre Henrique
Inscrições de 15 de fevereiro a 15 de março
Valor: R$ 50
End.: Cúria Metropolitana, Av. Rui Barbosa, 409
De segunda a sexta, das 8h às 13h
Informações: 3271.4270 com Vivian Santana ou Madalena Santos

Da Assessoria de Comunicação AOR